sábado, 15 de janeiro de 2011

Carta a Álvaro de Campos


Meu querido.
Não tinha outra forma de começar esta tua carta. Queria que fosse o mais pessoal possível e acho que vou consegui-lo, isto se te deixares levar por tudo aquilo que aqui te escrevo.
És de todos o mais especial, não menosprezando os outros, claro, mas és de facto aquele que mais se aproxima do meu estado de espírito.
Para alguns, ser parecido contigo é sinal de grande sofrimento(ou decadência), mas eu não concordo. Sim, é verdade que existe uma grande dor ,mas também existe uma grande sede de viver e isso vale por tudo.
És um grande senhor. Engenheiro naval de profissão, mas escritor de paixão.
Sabes que tal como tu, eu tenho uma grande paixão pelo mar?! É verdade. Além de uma enorme sede de viver as emoções ao rubro, partilho também o teu gosto pelo mar, pela escrita e pela leitura. Diria que somos almas gémeas.
Lamento pelo que vou agora dizer, mas acho que acima de tudo mereces toda a minha sinceridade. Acho que de certa forma és um imbecil. Desculpa mas não conheço forma cordial e simpática, mas se existe perdoa-me.
Sabes porque te considero um imbecil?! Escreveste belas Odes, sobre tudo o que levava todas as tuas sensações e sentimentos ao rubro, mas nunca escreveste sobre o mais sensacional, mas também o mais complexo tema: o Amor.
Tu que amas-te devias ter escrito uma Ode sobre tão complexo sentimento.
Mas não te condeno por isso. Pelo contrario meu querido, quem a irá escrever sou eu. E será em tua homenagem.
Lembrei-me que temos mais algo em comum, mas que este era dispensável a ambos: a Insónia.
Esta Insónia que nos mói e corrói que mesmo, ainda que por breves instantes, nos leva a desejar a morte. Mas quando pensamos melhor sobre isso preferimos a Insónia, e sabes tu porquê?!
É apenas mais uma forma de nos sentirmos vivos, ainda que a sofrer por não dormirmos.
‘Seja como for a vida, de tão interessante que é a todos os momentos chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger, a dar vontade de dar pulos, de ficar no chão, de sair para fora de todas as lógicas, de todas as casas, de todas as sacadas, e ir ser selvagem entre árvores e esquecimentos’_ Álvaro de Campos.
Por mais que doa, por mais que sofra, por mais que me custe viver, vale sempre a pena.
Tu ensinaste-me isto e eu ficar-te-ei eternamente agradecida. E sabes que mais?! A vida sem toda esta mistura de sensações não seria a mesma.
Eu sei que um grande amigo teu, nomeadamente Ricardo Reis, apoia precisamente o contrario. Que não nos deveríamos cansar. Que o contacto físico cansa o corpo e a alma, e que apenas nos faz sofrer.
Mas afinal o que seria o Homem sem toda esta mistura de sensações que tanto o corrói, como o deixa em êxtase de tanta felicidade?! Seria um nada.
O Homem é isto mesmo. Um turbilhão de sentimentos e sensações que tanto o matam, como o deixam louca de tanta satisfação.
Será que pelo menos tu me entendes?!


Sempre tua…




P.S. Esta carta além de ser para Álvaro de Campos, é tmabém para alguém muito especial.
Para que os ventos e marés nunca te façam cair em esquecimento.

2 comentários:

  1. A gente vai continuar!... Sem dúvida!
    Ai há textos que não vem mesmo por acaso não é verdade?
    "Apaixona-te!" Já sabes o que tens a fazer! ;)

    Uma grande grande beijoca!
    M Neves

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